15 outubro, 2008

Tirando Coelhos da Cartola

Lí com entusiasmo O Mago, biografia do escritor Paulo Coelho escrita por Fernando Moraes. Um trabalho primoroso, não apenas como levantamento biográfico, mas como um verdadeiro romance. Fernando Moraes sem dúvida conseguiu trazer para as listas de best sellers um gênero literário que sempre esteve restrito aos estudiosos. Fiquei tão fascinado e intrigado com o que lí a ponto de imediatamente correr para a Saraiva, comprar um livro do Paulo Coelho e lançar-me pela primeira vez à sua leitura. Fernando havia me convencido de que 100 milhões de livros vendidos pelo "mago" tinham que ter um bom motivo. Escolhi O Vencedor Está Só, mais recente publicação de Paulo Coelho. Lamento, mas não encontrei nele nada que justificasse nem meio milhãozinho de livros vendidos. Cheguei então a duas conclusões para isso tudo. A primeira é que a biografia de Paulo Coelho é mais uma das suas bem sucedidas estratégias de marketing, aliás muito bem descritas no livro de Fernando. Capaz como foi, de me fazer correr para comprar pela primeira vez um livro do escritor global, imagino que o mesmo tenha acontecido com dezenas de milhares de leitores de O Mago. A segunda conclusão é que o sucesso de Paulo Coelho (e isto é inquestionável) deve-se muito mais à uma carência de filósofos contemporâneos que ao pensamento do escritor. Creio ter sido Jorge Luiz Borges, falecido no fim do século passado, o último escritor a quem podemos classificar também de filósofo. Por trás de sua requintada prosa ou poesia, escondem-se respostas às milenares questões que nos angustiam ou -melhor ainda- novas visões destas mesmas questões. Depois de Borges, não tenho conhecimento de qualquer outro escritor contemporâneo que com um fundamento filosófico em seus livros, tenha alcançado popularidade. Aliás, nem o próprio Borges não era assim tão popular. Paulo Coelho repete tudo que já lemos por aí, desde O Pequeno Príncipe até A Profecia Celestina. Acontece que muita gente não leu nem um nem outro e descobre tudo isso de forma condensada, superficial e com uma forte influência das publicações de auto-ajuda (como convêm a este tempo em que a leitura é algo fugaz) nos livros extremamente bem trabalhados mercadologicamente de Paulo Coelho. Claro que isso não deve condená-lo à fogueira em praça pública, como gostariam 100% dos críticos literários nacionais. Pelo contrário. Ele está de certa forma atendendo a carência de milhões de pessoas espalhadas pelo mundo e que ainda procuram respostas. Este é o lado bom do fenômeno. Saber que nem todos estão contentes com os romances do cotidiano, as novelas da televisão, os blogs da vida ou os websites reflexivos. Querem mais. E se tudo que eles encontram no momento é Paulo Coelho, que seja. O "mago" pode não cortar tão fundo quanto Kant, Santo Agostinho ou o próprio Borges, mas arranha quem está querendo saber o que existe por baixo da pele. Isso é bom. Provavelmente não comprarei um segundo livro de Paulo Coelho. Mas Fernando Moraes, pela primeira vez, me fez entender que ele é necessário.

Nenhum comentário: