09 maio, 2009

The Real Life Presents:

Cena 1: homem diz à mulher que vai se apaixonar por ela. Cena 2: mulher diz ao homem que não existe possibilidade para ambos, pois ela ama outro alguém acima de tudo e não pretende sequer vê-lo em outra circunstância. Cena 3: homem aceita a situação, mas sente a atração crescer em seu coração, não se afastanem evita demonstrar que a quer. Cena 4: mulher mantém a situação inalterada, mas ali surgiu uma ponte e o tempo cria entreeles um entendimento e um carinho crescentes. Cena 5: (ainda sendo escrita.)

Os acontecimentos aqui narrados são imaginários e qualquer semelhança com coincidências terá sido fatos reais.

Existem algumas cenas de cinema, que permanecem por muito tempo em nossas memórias. Guardo comigo a visão de Dusty Hofmann mancando pela madrugada de Manhattan em Midnight Cowboy; do seminarista ajudante de Sean Connery sendo seduzido por uma aldeã, sobre sacos de batatas no mosteiro em O Nome da Rosa; de Max Von Sidow encharcado de suor ao sonhar navegando num rio de cadáveres em A Hora do Lobo, de Bergmann.
Uma cena entretanto me marca mais profundamente. Não se trata de nenhum grande filme, sequer é uma cena surpreendente, porém por alguma razão, entre outras ela se destaca na minha memória emocional. É em Viver Por Viver, quando Ives Montand, resolve sair de uma reclusão voluntária num chalé nas montanhas nevadas de Chamonix, após uma paixão impossível. Ele caminha até o carro parado do lado de fora e coberto pela neve. Antes de entrar no carro ele se debruça e com o braço retira a neve acumulada sobre o pára-brisa. Através do vidro, dentro do carro, ele vê sentada a mulher que imaginava nunca mais rever e jamais poder ter ao seu lado. Cresce a música, sobem os créditos, acaba o filme. Fora do cinema, a realidade tenta nos ensinar que não existem paixões impossíveis por não existirem mais paixões. Que homens e mulheres hoje se relacionam. Tem um caso. Ou ficam. Será ? Não acredito. E isto que sinto por você se chama o que ? Creio não haver mais com tanta freqüência a “paixão impossível”, porque a sociedade se tornou mais complacente, mais compreensiva, talvez até cansada de ver romeus e julietas se multiplicarem.
Não existem mais tanta impossibilidade para o amor quanto existia antes. Casamentos se desfazem, distâncias são vencidas, enormes diferenças de idade ignoradas, barreiras sociais e religiosas caem por terra, culturas distintas são assimiladas, tudo em nome do amor. Tudo isso praticamente eliminou a impossibilidade, não a paixão. Hoje ela apenas não maltrata tanto quanto antes. O que impede o amor agora entre duas pessoas, é apenas a misteriosa energia que emana de cada uma delas e as fazem vibrar em sintonias semelhantes ou diferentes, mantendo-as mais ou menos afastadas. Ou mais ou menos próximas.
Mas, esta é também a mesma energia que as une de forma inapelável, as vezes subitamente, as vezes lentamente, mas sempre irresistível. O próprio cinema nos mostra isso. Como Marcelo Mastroianni e Shirley Maclaine em Paixão de Outono, que esperaram por 40 anos ela ficar viúva, para no mesmo dia do funeral confessarem um amor latente. Ou Clint Eastwood e Maryl Strep, em As Pontes de Madison, que em uma semana amaram-se para toda a vida. Ou Jeremy Iron e Juliette Binoche em Perdas e Danos, que desistiram de lutar contra a inexplicável energia.
Talvez a vida real não tenha o mesmo charme que a das telas, mas uma imita a outra e os finais felizes nem sempre parecem ser assim para todos. Mas são; para quem percebe que o amor é bem mais forte que a lógica. Não importa quem acaba com quem, se serão felizes para sempre ou se seguirão caminhos diversos depois do amor. Ou do filme. O que importa é que de uma forma ou de outra, ele fez a história. The end.