15 outubro, 2008

Em política o coração também vota.

Acabo de participar da campanha eleitoral de um candidato a prefeito numa capital do nordeste brasileiro. No começo da campanha o candidato tinha em torno dos 6% das intenções de voto e era desconhecido ou pouco conhecido por cerca de 60% do eleitorado, o que lhe dava uma larga estrada pela frente para crescer. Ao final da campanha, o candidato -deputado federal- alcançou a marca dos 22% dos votos válidos, colocando-se em 2º lugar na votação. O que não adiantou nada, porque o atual prefeito, candidato à reeleição, independente de ter todo o poder das máquinas municipal, estadual e federal nas mãos, levou no 1º turno. Raspando, com 51,2% dos votos válidos, mas levou. Não quero aborrecer ninguém com análises eleitorais ou políticas. Este texto é apenas para registrar um fato decisivo da campanha. O candidato vencedor, desde o início da campanha vinha sendo bombardeado pelos outros quatro candidatos, inclusive aquele para quem eu estava trabalhando. Mas, os mísseis lançados contra ele não eram de precisão cirúrgica como aqueles assim definidos quando destruíram alvos estratégicos em Bagdá. Com trajetória meio incerta, eles atingiam ora a administração realizada, ora o próprio candidato. Uma coisa é você criticar uma realidade, outra é você criticar uma pessoa. A administração municipal realizada pelo candidato à reeleição não era um absurdo como tantas que temos por aí mas tinha lá suas falhas, principalmente num setor vital para a opinião pública: a saúde. Entretanto o cidadão que ocupava -e continuará ocupando mais 4 anos- a cadeira do prefeito, é um cara bacana. Simples, sem qualquer vestígio de arrogância, simpático, festeiro. Daqueles que sobem no palco de um evento público e tocam sanfona para o povo cantar. Pois bem. Torpedeado por todos os lados, sua intenção de votos que beirava os 57% no início da campanha, despencou para 47% perto do final, com registro de tendência a continuar caindo. Isso significava que havendo um segundo turno, sua situação se complicaria. Acontece que os torpedos adversários ora explodiam mostrando que a situação municipal era calamitosa, ora detonavam dizendo que o prefeito era um sujeito desprezível, sem vontade própria, preguiçoso e enganador. Até que chegou o momento do debate final, transmitido pela Rede Globo, no último dia de propaganda eleitoral. Espertamente, o prefeito candidato apresentou-se como vítima de ódios pessoais e não de críticas fundamentadas. A cada chicotada que levava no ar, retrucava: porque vocês não apresentam soluções para os problemas da cidade em lugar de ficarem me espancando? O resultado é que ele saiu do estúdio da Globo de volta para seus 52% de votos que o elegeram no próprio dia 6 de outubro. O povo ficou do lado dele. Ninguém se sente feliz -exceto os sádicos, mas aí é com Freud- vendo alguém ser massacrado públicamente. O que estava em jogo não era a pessoa humana, mas sim a capacidade de administrar uma cidade. Isso poderia ser demonstrado apenas com a apresentação da realidade vivida pelos cidadãos, especialmente os mais carentes. Era suficiente. Quando o indivíduo em sí passou a ser julgado, o eleitor tomou as dores. Mesmo sabendo que mais coisas poderiam ter sido feitas em seu benefício, não aceitou que atacassem a pessoa do prefeito. Sentimentalismo barato? Aos olhos de quem perdeu, sim. Aos olhos da população, não. O povo podia até não achar sua gestão lá essas coisas, mas gosta dele. Olhando de fora, vemos aí mais uma manifestação do consciente coletivo. Parecido com o fato de que ninguém nunca acha que Daiane dos Santos errou na ginástica ou todo mundo acha que Rubinho sempre errou, até mesmo fora do carro. Levar uma pessoa ao pódio ou tirar alguém de lá, não se resume à técnicas de comunicação e marketing. É indispensável sensibilidade. Porque, por mais sofrida que seja a nossa gente, ela ainda é sensível e capaz de simpatizar ou antipatizar à primeira vista e tomar posições puramente emocionais. Exatamente como eu ou como você. O eleitorado não é uma massa disforme, que segue os caminhos da lógica de mercado e suas ferramentas poderosas. É gente como a gente, capaz de desmontar a mais qualificada previsão de comportamento e seguir o coração. Ainda bem que não perdemos de todo a nossa capacidade de nos emocionarmos. Fica a lição, tanto para quem ganhou quanto -principalmente- para quem perdeu.

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